Ao lado dos familiares, Jan construiu a Koppert, fundada em 1967. Hoje, trata-se de uma gigante do controle biológico para lavouras em todo o mundo, sempre usando soluções naturais. “Decidimos fazer uma parceria com a natureza para restaurar o delicado equilíbrio que havia sido quebrado. Nossa visão é de que o mundo precisa de uma agricultura 100% sustentável”, diz Martin Koppert, diretor de Negócios e membro do conselho da multinacional holandesa, em entrevista a Época NEGÓCIOS.
A empresa está presente no Brasil desde 2011, com três unidades de produção que têm como foco pesquisa e desenvolvimento. É esse investimento que coloca a Koppert na vanguarda das inovações do setor, 50 anos depois de desenvolvida a tecnologia inicial. “Nossas equipes globais de P&D trabalham continuamente para melhorar a eficácia das soluções existentes e encontrar outras novas. Curativas, mas cada vez mais preventivas, com foco na saúde das plantas e na resiliência das culturas”, afirma.
Se o investimento em pesquisa e desenvolvimento mantém a empresa à frente, o Brasil é estratégico nesse cenário. Aqui, a empresa investe em pesquisa científica de alto nível, em parceria com universidades. Recentemente, inaugurou o primeiro hub de inovação especializado em tecnologias de controle biológico do país, o Gazebo, com um fundo de R$ 50 milhões para estímulo à inovação. Confira a seguir os principais trechos da entrevista com Koppert.
ÉPOCA NEGÓCIOS - Como as novas tecnologias estão transformando o mercado de defensivos e, com isso, a produção de alimentos?
MARTIN KOPPERT - Existe hoje uma série de desafios que exigem nossa atenção. Uma questão urgente é a perda alarmante da biodiversidade, com implicações significativas para a saúde do nosso planeta. Além disso, o uso de agrotóxicos tornou as pragas e doenças mais resistentes, gerando preocupações com a segurança e a qualidade dos alimentos. Como resultado, há uma demanda crescente dos consumidores por alimentos mais saudáveis e com teor reduzido de ingredientes químicos.
À medida que o uso de pesticidas químicos se torna mais restrito, haverá uma necessidade crescente de alternativas biológicas viáveis. Essa restrição destaca a urgência de encontrar tecnologias sustentáveis para as práticas agrícolas.
Nossas equipes de P&D trabalham para melhorar a eficácia das soluções existentes e encontrar outras novas. A maior parte delas ainda são soluções curativas. Mas cada vez mais investimos na prevenção, com foco na saúde das plantas e na resiliência das culturas.
Qual é o principal desafio global para se atingir uma agricultura 100% sustentável?
Para enfrentar esses desafios e criar um futuro mais sustentável, é crucial adotarmos práticas de cultivo que sejam tanto seguras quanto ambientalmente corretas.
E qual é, para o senhor, o papel da inovação nesse processo?
No centro de nossa abordagem está a crença de que a natureza é a chave para resolver esses dilemas. Por isso decidimos fazer uma parceria com ela, para restaurar o delicado equilíbrio que havia sido quebrado. Guiados pela inovação, fornecemos um sistema integrado de conhecimentos especializados e soluções naturais que aumentam a resistência das culturas.
Considerando o mercado da América do Sul, qual deve ser o foco de pesquisa e desenvolvimento da empresa nos próximos anos?
No Brasil, trabalhamos com nosso conceito de sistema integrado: um portfólio completo, com macro e microrganismos, para as grandes culturas de campo aberto. A empresa é parceira do Sparcbio [São Paulo Advanced Research Center for Biological Control], um centro inédito no país, envolvendo a interação entre nossa empresa, a Universidade de São Paulo, por meio da ESALQ [Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz], e da Fapesp [Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo]. Juntos, desenvolvemos pesquisa científica de alto nível para o desenvolvimento de tecnologias agrícolas sustentáveis.
O objetivo do centro é estabelecer um novo modelo de manejo de controle de pragas e doenças para agricultura tropical, com a missão de desenvolver projetos de pesquisa, produtos e tecnologias que resultem no fortalecimento desse tipo de manejo. Pretendemos continuar investindo na ampliação do ecossistema brasileiro de inovação aberta para a agricultura. Foi com esse objetivo que lançamos recentemente o Fundo Gazebo. Nos outros países da América do Sul, seguiremos a mesma estratégia, trabalhando um pipeline que proporcione um manejo mais sustentável.
A inovação deu origem à empresa, com a descoberta da eficácia de insetos para o controle de pragas. O que inspira uma empresa a continuar inovando, depois de mais de cinco décadas?
Os insetos benéficos, macrobológicos, com os quais iniciamos nossa empresa familiar [em 1967], ainda fazem parte de nossa linha de produtos. Mas, ao longo de décadas, conseguimos adicionar ao portfólio outros tipos de soluções biológicas, como biofungicidas e bactérias, à base de pesquisa e desenvolvimento, e também a partir da cooperação com os nossos clientes. Nossos produtos e conhecimento são usados por produtores e agricultores em todo o mundo para restaurar o equilíbrio natural dos sistemas produtivos.
Por Andressa Rovani, da Época Negócios