A TFA é uma iniciativa de empresas e governos, abrigada no Fórum Econômico Mundial, voltada ao combate ao desmatamento nas cadeias de produção de commodities e com foco em óleo de palma, soja, carne, polpa e papel. A aliança foi criada após o Fórum de Bens de Consumo (CGF), reunindo diversas companhias do setor de alimentos, que se comprometeram a zerar o “desmatamento líquido” nessas cadeias até 2020, em linha com a Declaração de Nova York sobre Florestas.
Fazem parte do TFA desde multinacionais de varejo e alimentos (como Carrefour, McDonalds, Cargill, Cofco International, Nestlé, Kellogg’s, Marfrig Global Foods e Mars) , agentes do mercado financeiro (como HSBC e PwC) e organizações não não-governamentais (como WWF, Fern e Imaflora), até governos nacionais (como o do Reino Unido, da Noruega, do Congo e da Colômbia) e mesmo governos estaduais (como o de Mato Grosso).
Adams, que veio ao Brasil nesta semana, às vésperas da COP 25, que ocorrerá na Espanha, disse em entrevista ao Valor que a posição da TFA “não é defender a moratória”, mas “tentar fazer com que o Brasil consiga ser o maior produtor de alimentos do mundo sem acabar com o ambiente”.
Nesse sentido, o diretor ressaltou que é preciso restabelecer a conversa com os produtores rurais e pensar, conjuntamente, em soluções que podem contemplar a remuneração pela preservação de florestas.
“O Brasil tem a oportunidade de desenvolver pagamentos para serviços ecossistêmicos como forma de proteger mais florestas do que os produtores são requeridos legalmente. É um dos jeitos que podemos demonstrar o benefício a eles (produtores). Senão, acho muito difícil”, disse Adams.
Ele também realçou que há outros instrumentos para incentivar a produção sustentável, como o Plano ABC de incentivo à agricultura de baixo carbono no Brasil, a redução dos juros e até incentivos privados. “Já tem companhias europeias pensando em criar incentivos para ir além da restrição legal ao desmatamento.”
“Acabar com a Moratória da Soja agora, porém, sem um novo mecanismo que a substitua para impedir o desmatamento, é temerário”, avaliou o diretor da TFA.
“Atacar a Moratória da Soja pode criar um desconforto internacional significativo” e pode gerar uma “forte reação negativa nos mercados internacionais”, acrescentou Adams, que lembrou dos pedidos de boicote contra o Brasil na época das queimadas.
Ele observou que, mesmo após o início da moratória, a área de soja plantada no bioma amazônico quadruplicou, passando de 1.14 milhão de hectares na temporada 2006/07 para 4.66 milhões de hectares na safra 2017/18, enquanto o desmatamento relacionado à expansão do cultivo do grão passou a representar apenas 1% das áreas desmatadas na Amazônia, contra 30% registrado dois anos antes do acordo.
“Por mais imperfeita que a moratória seja, e sabemos das imperfeições e das frustrações dos produtores, é a ferramenta que as companhias que incluem a soja na sua cadeia de suprimentos têm para garantir que se coma, na Europa ou na China, sem causar desmatamento”, afirmou Adams.
Para ele, embora a preocupação com o impacto ambiental na China seja “muito menor” do que na Europa, “a atenção com o ambiente está crescendo exponencialmente” no país. “É uma estratégia muito limitada dizer que a China não se importa”, disse.
Apesar dos resultados da moratória para reduzir o desmatamento relacionado à soja, Adams admitiu que não conhece nenhuma empresa signatária da Declaração de Nova York sobre Florestas que tenha afirmado que chegará no ano que vem com sem desmatamento em suas cadeias de suprimento de commodities.
“Mas sei de companhias que fizeram progresso para reduzir desmatamento em óleo de palma e soja. Tem muito trabalho que foi feito para reduzir e monitorar.”
O desafio, segundo o diretor da TFA, é combater o desmatamento ilegal, que responde pela maior parte do desmatamento das cadeias de suprimento. “Por ser ilegal, não é algo que as companhias possam fazer, mas sim que os governos possam fazer”.
Valor Econômico