Foi em 2000 que essa história mudou. Na época, o agrônomo que trabalhava na região sugeriu ao seu Valdemar a adoção do sistema ILPF (Integração Lavoura-Pecuária-Floresta), para recuperar a qualidade do solo e aumentar sua rentabilidade. A ideia foi aceita e logo começaram a colocar em prática o ILP, integrando a pecuária com o plantio de arroz, de forma pioneira na região. O cereal foi cultivado por quatro anos, período considerado de transição, necessário para preparação do terreno para a entrada da soja.
"Em pouco tempo, triplicamos o rebanho da fazenda e, de quebra, produzimos 80 mil sacas de soja por ano. É um sistema que só trouxe benefícios", afirma Juliano Antoniolli, filho de Valdemar, que hoje toca a fazenda com o irmão Giovani. O aumento na produtividade pecuária e o incremento de grãos foram apenas algumas das vantagens. Soma-se a isso o fato de que 100% da área produz o ano inteiro e a diversificação de renda, que agora engloba grãos, bezerros, boi magro, boi gordo, vaca descarte e bezerros ½ sangue. Hoje, a família já está adaptando a infraestrutura da propriedade para começar o plantio de árvores nos próximos anos e, assim, acrescentar o "F" de "floresta" ao ILP, que já praticam com excelência.
O caminho de Valdemar é parecido com o percorrido pela dentista Marize Porto, em Ipameri, no interior de Goiás, que assumiu em 2006 a gestão da Santa Brígida, uma fazenda de pecuária de corte com 960 hectares. Após o falecimento do marido, ela encontrou na Embrapa a solução para os pastos degradados, infestados de cupim e seu gado com baixa produtividade: o ILPF (Integração Lavoura-Pecuária-Floresta). "Desde que introduzimos este método, nosso rendimento pecuário aumentou em dez vezes, a produção de soja e milho cresceu, e nossas emissões de CO2 diminuíram em mais da metade", conta Marize, que apenas no terceiro ano iniciou o trabalho florestal na propriedade. "Além de fornecer madeira e reduzir a pegada de carbono da fazenda, as árvores fornecem sombra para o gado. Agora, temos três fazendas em uma", completa.
A Fazenda Santa Brígida é hoje um dos principais exemplos de sucesso da adoção completa do ILPF, essa estratégia de produção que integra diferentes sistemas produtivos, agrícolas, pecuários e florestais dentro de uma mesma área – podendo ser feita em cultivo consorciado, em sucessão ou em rotação, de forma que haja benefício mútuo para todas as atividades porque busca a intensificação sustentável do uso da terra e o aumento da eficiência dos sistemas de produção. É uma tecnologia de baixa emissão de carbono, considerada por muitos como o futuro da agricultura. "Nosso objetivo agora é aumentar o valor agregado em tudo que produzimos, seja soja, milho, carne ou árvores. Com ILPF, estamos mostrando que produzir e preservar é possível. Aqui somos sustentáveis, em todos os sentidos", finaliza Marize.
Juntos, vamos mais longe
Para impulsionar a adoção do sistema ILPF no País e integrar a cadeia produtiva – organizando dias de campo, promovendo pesquisas agronômicas e transferência de conhecimento –, a Embrapa estabeleceu uma parceria público-privada com empresas como John Deere, Syngenta e Cocamar, fazendo surgir a Associação Rede ILPF.
"Conseguimos desenvolver no Brasil uma agricultura baseada em ciência, e isso é para poucos países do mundo. Precisamos ter muito orgulho dos resultados alcançados nos últimos anos", é assim que Renato Rodrigues, pesquisador da Embrapa e presidente do Conselho Gestor da Associação Rede ILPF, se refere ao sistema.
Os números comprovam a eficiência desta solução, já que, por meio do ILPF, o Brasil conseguiu superar as metas estipuladas voluntariamente dentro do Plano ABC (Agricultura de Baixa Emissão de Carbono), parte do Acordo de Paris, de atingir 9 milhões de hectares cobertos com essa tecnologia de produção rural até 2030. Hoje, segundo o IBGE, o País já conta com 15 milhões de hectares integrados, e, de acordo com o pesquisador, está agora buscando alcançar 30 milhões para o período estipulado, o triplo da meta proposta inicialmente.
"Temos espaço e tecnologia para isso. A ideia é fazermos o uso sustentável do solo, transformando pastagens degradadas em ILPF. Este é um dos grandes benefícios ambientais. Além disso, ao compararmos áreas que adotaram o método e aquelas com sistemas tradicionais, vemos um ganho mínimo de 15% de rentabilidade agrícola", explica.
Para Paulo Herrmann, presidente da John Deere Brasil, a rede foi criada exatamente para que o conhecimento técnico da Embrapa pudesse chegar aos produtores rurais e é isso que o grupo tem feito. "No período de 2012 a 2018, trabalhamos pela expansão do sistema e demos um salto significativo no número total de áreas que adotam o ILPF. Hoje, já temos sete empresas que participam da iniciativa conosco e estamos em uma nova etapa, levando essas informações para outros países, pois essa tecnologia pode ser aplicada em outros ambientes também", afirma.
Para o executivo, o ILPF é a resposta que o Brasil deve dar ao mundo, quando for questionado sobre a sustentabilidade de seu agronegócio. "Pesquisas apontam que, em 30 anos, China e Índia serão duas das maiores economias mundiais, os maiores importadores de alimentos, altamente populosos e sem produção agrícola suficiente. Ou seja, uma oportunidade real para o Brasil assumir protagonismo neste cenário. Precisamos construir esse caminho de liderança global. Ninguém melhor que o Brasil para mostrar que produzir e preservar o meio ambiente é possível, são frentes que caminham juntas", reflete Paulo Herrmann. (Agrolink)