Indústria alimentícia no Brasil: para onde ela está envergando? Divulgação.

Indústria alimentícia no Brasil: para onde ela está envergando? Destaque

Escrito por  Abr 12, 2019

No dia 03/04 participei da 2ª edição da WellFood Ingredients – Summit International de Ingredientes Funcionais, Nutracêuticos e Naturais, no Centro de Eventos Pro Magno, em São Paulo/SP.

O evento guia o futuro do mercado de alimentos saudáveis e funcionais e foi organizado pela Koelnmesse, em parceria com o ITAL (Instituto de Tecnologia de Alimentos) e a ABIAM (Associação Brasileira da Indústria e Comércio de Ingredientes e Aditivos para Alimentos).

Durante dois dias de evento (03 e 04/4), o setor teve ao seu alcance a primeira e única plataforma de negócios e conhecimento dedicada exclusivamente a um segmento de crescimento inabalável no Brasil: o de alimentos com apelo à saúde e ao bem-estar.

Um dos pilares do evento foi o Congresso Internacional, organizado em parceria com o ITAL, no qual tive a oportunidade de assistir a algumas palestras.

Já a exposição reuniu novidades em produtos e serviços, também detalhada pelas empresas no espaço Speaker´s Corner. A edição contou com a participação da ABIAM, que escolheu o WellFood Ingredients para celebrar os seus 40 anos de existência.

O espaço abrigou indústrias visionárias e o público ficou a par das principais tendências e tecnologias para o desenvolvimento de alimentos, bebidas e produtos farmacêuticos de vanguarda.

O módulo I do Congresso abordou os “Rumos da indústria: principais tendências e como se adaptar às exigências do mercado”, e foi aberto por Luis Madi, Diretor de Assuntos Institucionais e Internacionais (ITAL/SAA) e Hélvio Colino, Presidente da ABIAM.

É nítido que o setor de alimentos no Brasil e no mundo está passando por uma grande transformação e há desafios da indústria diante dos novos padrões e exigências das agências reguladoras. E como se adequar e não perder o timing da indústria e do consumidor?

Para Raul Amaral, Coordenador da Plataforma de Inovação Tecnológica do ITAL, ainda há um contrassenso sobre os ultraprocessados, que nos últimos anos, estão sendo considerados vilões da nutrição. “Devemos dar uma maior importância às pesquisas sobre ultraprocessados associando também a outros fatores, como a prática ou não de atividades físicas, tabagismo, entre outros. É difícil e vago associar os problemas de saúde a apenas um item, isoladamente. Além disso, precisávamos ter um assessoramento das mídias a fim de que passemos informações mais fidedignas para a população”, disse.

Raul Amaral, Coordenador da Plataforma de Inovação Tecnológica do ITAL   (Foto: Divulgação.)

A segunda palestra foi proferida por Lamine Lahouasnia, Head de Pesquisa de Alimentos da Euromonitor, que abordou as principais tendências globais no segmento de alimentos e bebidas saudáveis e as previsões do setor para os próximos anos na América do Sul.

Lamine Lahouasnia, Head de Pesquisa de Alimentos da Euromonitor    (Foto: Divulgação.)

Lamine destacou cinco principais tendências no seu ponto de vista: produtos naturalmente saudáveis, fortificados e funcionais, melhor para você, free from (em tradução, livre de algo) e orgânicos.

Pontos que me chamaram a atenção nas falas de Lamine foram os destaques para 4 drivers:

a renda da população, que impacta em decisões diferentes;
o aumento da população e o envelhecimento da mesma, que passa a ter requisitos diferentes;
o acesso à informações dos consumidores via tecnologias, que passam a buscar informações sozinhos e;
questões de sustentabilidade e meio ambiente.
Em um determinado momento, ele disse que os consumidores estão ligados naquilo que julgam ser melhor para eles e estão olhando cada vez mais para dietas específicas e não apenas para produtos individuais. Também, citou a prevalência de alergias, aumento da obesidade e a menor demanda por alimentos processados, fatores que impactam nas decisões e caminhos que a indústria seguirá. “Até os alimentos feitos em laboratórios já estão ganhando corpo e isso atinge por exemplo um nicho de pessoas que não consome carne, pois é possível fazer hambúrguer em laboratório – com o mesmo sabor da carne – mas sem usar animais, apenas com soja. Esse segmento não é apenas para vegetarianos ou veganos, visto que flexitarianos, que esporadicamente consomem produtos de origem animal, têm curiosidade em desbravar alimentos com esse perfil”, comentou Lahouasnia.

Por meio dos seus números mostrados ao público, fica claro que o Brasil tem uma preferência por produtos naturalmente saudáveis dentre aquelas categorias que citei acima, e devido a diversidade de alimentos do país, as indústrias podem explorar esse segmento utilizando por exemplo frutas nativas, do cerrado, etc. Enquanto isso, a Ásia, grande mercado consumidor, permanece com preocupação no âmbito da segurança dos alimentos e a China se destaca pelo boom do e-commerce e a maior confiança em rótulos internacionais.

O módulo II focou nas “Novas Ferramentas para a Resolução de Velhos Problemas” e Carolina Godoy, Gerente de Novos Negócios da Equilibrium, falou sobre como os novos comportamentos alimentares contribuem para o desenvolvimento de projetos inovadores e disruptivos para o segmento alimentar.

Carolina Godoy, Gerente de Novos Negócios da Equilibrium (Foto: Divulgação.)

A essência do que Carolina disse na apresentação foi que as empresas precisam entender a dor dos consumidores e entender se aquilo que é passageiro ou não. Também, fez um questionamento: “Mas afinal, como identificar as tendências que de fato impactarão o seu negócio?”

As tendências não surgem de um dia para o outro, são na verdade, padrões de comportamento que se repetem continuamente. Tenha consciência de que as tendências não se referem a padrões futurísticos, e são, na verdade demandas atuais e ofertas de mercado que já existem no presente e que ganharão mais destaque e força no futuro. Para ela, o trendspotting, que é a arte de identificar pequenas inovações do mundo atual, com potencial escalável e adesão comportamental por pessoas reais é um excelente opção. “Devemos separar o novo legal do futuro potencial do mercado”, acrescentou, também frisando que as escolhas de consumo nunca foram tão holísticas. “Não podemos ter o consumidor no centro das decisões, mas os seres humanos”.

Ela sensibilizou o público quando falou que os consumidores buscam alimentos que os remetem ao passado e que a neurogastronomia é um campo emergente e que explora os processos dinâmicos de percepção de sabor no cérebro. Também citou a questão da identidade e que na verdade, comemos aquilo que somos. Em cima disso, as novas categorias de alimentos reescreverão as regras para identidades comestíveis e a geração Y (Millenial), inclusive, se alimenta com propósito. Também não podemos esquecer a crescente busca pelos benefícios dos alimentos e ingredientes com foco na saúde, porém, as pessoas ainda escolhem os alimentos pelo sabor e isso deve ficar claro para as marcas.

Uma novidade que vem ‘pintando na área’ embasada na era da gourmetização e da influência dos chefes de cozinha é o Chef to Shelf, que inclusive, a rede Pão de Açúcar anunciou que trabalhará em breve. São kits formados por receitas elaboradas por chefs e os respectivos ingredientes, nas medidas indicadas.

Algo que também foi trazido na pauta e que é uma grande promessa em várias áreas, inclusive a láctea, são os snacks, que hoje chegam a representar 60% da taxa de sucesso de algumas indústrias. Só nesse ponto, temos muito assunto para discorrer e seria um possível tema para o próximo artigo. Mas de maneira resumida, pela falta de tempo e vida em movimento, os snacks são uma grande promessa para o mercado.

Já abordamos esse tema algumas vezes no MilkPoint, mas é essencial pincelarmos novamente. Hoje os queijos disponibilizados em porções práticas são processados. Não encontramos snacks de queijos in natura em embalagens e porções práticas para serem consumidos como lanche. O que vemos, são apenas peças de queijos inteiras ou queijo fatiado. Esse produto poderia ser facilmente encaixado na rotina das pessoas, visto que é muito agradável ao paladar de todos (difícil achar alguém que não goste de queijo!), além de ser uma opção saudável.

Como não poderia ser diferente, mais uma vez a tecnologia apareceu na discussão e Carolina ressaltou a nutrição personalizada, algo que já está ocorrendo em alguns países. Chamada do biohacking, a empresa coleta uma amostra de sangue (também pode ser fezes ou DNA) e em cima disso, elabora uma dieta específica para aquela pessoa. Também, considerando seus níveis de atividade física e hábitos de vida. Ela citou uma empresa chamada Multiply Labs, localizada nos Estados Unidos, que vem fazendo vitaminas personalizadas de acordo com as características de cada cliente. É... as coisas evoluíram pessoal! O mais engraçado é que pelo menos para mim, eram coisas aparentemente ainda bastante distantes, mas não, já estão bem perto. Quer outro exemplo?

Lançado no Estado do Espírito Santo e recentemente anunciando duas lojas na cidade de São Paulo, aparece a Zaitt, primeiro mercado 100% autônomo da América Latina, sem filas, sem caixa e sem funcionários. O cliente baixa um app e para acessar qualquer uma das lojas, basta se identificar via reconhecimento facial na porta de entrada ou escanear o QR Code. Para comprar, basta adicionar os produtos via QR Code direto pelo app e finalizar a compra. O valor é debitado automaticamente no cartão de crédito cadastrado. Surpreendente né?

Na mesma linha, Mário Rosa, Gerente Geral do Brasil da Echos Escola de Design Thinking falou sobre futuros desejáveis por meio do Design Thinking. Para quem não sabe, Design Thinking é o conjunto de ideias e insights para abordar problemas, relacionados a futuras aquisições de informações, análise de conhecimento e propostas de soluções. De acordo com ele, os valores da população estão mudando radicalmente e provocando a plateia, questionou se alguém presente possuía pais ou avôs vegetarianos. De maneira unanime, ninguém tinha. Mas, como vem aumentando essa escolha nas civilizações, ele acredita que criar novos valores é um dos desafios da indústria.

Mário Rosa, Gerente Geral do Brasil da Echos Escola de Design Thinking (Foto: Divulgação.)

“Ao meu ver, as empresas precisam se conectar com o mundo lá fora e com uma lógica centrada nas pessoas. Vale lembrar que as ferramentas ajudam no mindset, mas, precisa ter pessoal capacitado para utilizá-las, sem contar a empatia, fundamental para todos os negócios. A indústria alimentícia precisa de novas narrativas para criar narrativas futuras muito melhores”, completou Rosa.

 


Fonte: Milk Point.

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