As estratégias do mercado de hortaliças

Escrito por  Jul 16, 2018

No Brasil, dez mil produtores cultivam hortaliças, como alface, tomate, cebola, pimentão, pepino, entre outras, em uma área total de 800 mil hectares, o que equivale a propriedades com média de 80 hectares. Apesar de extremamente pulverizado entre pequenos produtores rurais, o setor movimenta R$ 17 bilhões anualmente.

Por lidar com alimentos que vão diretamente para a mesa do consumidor, comprados em feiras e supermercados, os desafios do setor são imensos. Está na ordem do dia questões como o registro de agroquímicos, a rastreabilidade, a logística para que as hortaliças cheguem rapidamente aos pontos de venda, mão de obra, sucessão familiar e a organização dos produtores.

Para debater esses temas, a Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), em parceria com a Associação Brasileira de Marketing Rural (ABM&R) e a Associação Nacional de Defesa Vegetal (Andef), realizou em São Paulo um encontro que contou com lideranças do setor, produtores e pesquisadores. Chamado de Campo no Campus, a missão dos participantes foi retratar em um painel quais propostas de mudanças poderiam ser incorporadas como políticas para o setor. “A ideia é que o encontro resulte em uma carta aberta que será apresentada a organismos governamentais”, diz o professor da ESPM Luiz Tejon Megido, coordenador do evento. A carta com as principais propostas debatidas no encontro será elaborada pela ABM&R.

O tema mais longamente debatido foi a questão da rastreabilidade dos produtos para monitorar a presença de resíduos de agroquímicos nos alimentos.

Representantes da Associação Brasileira de Supermercados (Abras) mostraram como funciona o programa criado especialmente para rastrear e monitorar o uso de agrotóxicos nas Frutas, Verduras e Legumes (FLV) comercializados pelas mais de 80 mil lojas do setor, espalhadas por todo o País, de pequenos comércios a gigantes como o Pão de Açúcar. Chamado de Programa de Rastreamento e Monitoramento de Alimentos (RAMA), o projeto monitora atualmente um terço de todas as frutas e verduras comercializadas pelos associados da Abras. Para Gianpaolo Buso, diretor da Paripassu, empresa responsável pelo acompanhamento do Rama, o rastreamento é hoje uma discussão mundial. “Até a Europa não sabe muito bem o que mostrar para o consumidor”, diz Buso. “Mas é certo que o rastreamento leva à organização da produção e traz ganhos de imagem e de confiança do consumidor.”

Segundo o presidente da Andef, Eduardo Daher, o setor poderia se beneficiar mais com o atual crescimento do poder aquisitivo da população do País. O Brasil, apesar de ser o terceiro maior produtor mundial de hortaliças, apresenta um consumo anual de apenas 40 quilos por habitante. “Na Espanha, mesmo em crise, o consumo é 160 quilos por habitante-ano”, diz Daher. “Sem contar que no Brasil há um desperdício enorme de alimentos.” Para ele, organizar o setor é fundamental nesse momento e exige uma política pública. Anita de Souza Dias, coordenadora do Centro de Qualidade em Horticultura da Ceagesp, na capital paulista, diz que há modelos nos quais o País poderia se inspirar. Como o americano, que começou a ser desenvolvido em 1800, através de normas gerais de classificação de produtos. “Mas que evoluiu à medida das necessidades do setor”, diz Anita. Hoje, são as comissões de marketing e ordenamento de cada cultura que estabelece as normas de cultivo e comércio. Essas comissões são financiadas pelos produtores e auditadas pelo governo.“Nos Estados Unidos, quem planta morango não precisa discutir normas para a alface, e vice versa”, afirma Anita. “Muito diferente do setor no Brasil, que ainda precisa de estrutura legal para andar e de leis que funcionem.”

Fonte: Isto é Dinheiro

Última modificação em Segunda, 16 Julho 2018 16:27
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