Presente ao evento, Sylvia Wachsner, coordenadora do Centro de Inteligência em Orgânicos da Sociedade Nacional de Agricultura, afirma que os atuais desafios do setor englobam ainda “investimento em tecnologia e qualidade, e oferta de produtos em mercados diferenciados, com resultados que levariam o produtor a vender a um preço mais elevado e aumentar sua renda”.
Sendo assim, os investidores deixariam de exportar somente commodities para agregar valor. Sylvia Wachsner também desmente a alegação de que esses produtos deixariam de ser vistos como commodities por serem orgânicos. E acrescenta: “Necessitamos de um maior número de empreendedores brasileiros com visão, dispostos a investir em inovação, para integrar toda a cadeia de fornecimento e abrir mercados”.
ENERGÉTICO
O certo é que algumas iniciativas já rendem bons resultados. Com tese de mestrado na Espanha e esbanjando a energia característica dos jovens empreendedores, o gaúcho João Paulo Sattamini aplicou todo o dinheiro que tinha durante dois anos para pesquisar produtos inovadores que poderiam ser exportados. Em 2009, a Organique dava seus primeiros passos.
A empresa produz uma bebida energética orgânica com açaí, guaraná e mate – ingredientes característicos do Brasil, que saem direto da agroindústria para os varejistas brasileiros e do exterior. Já o design das latas foi concebido na França. “Queria uma embalagem premium que fosse aceita em todo o mundo, preta com uma franja cor vinho e a letra O. Deu resultado. Aos poucos as latas vão adquirindo novas cores e idiomas, como as franjas verde e amarelas, para o mercado japonês”, explica Sattamini.
Apesar da certificação orgânica agregar valor às bebidas, a proposta do empreendedor era lançar um produto saudável. “A Organique foi a segunda bebida energética orgânica lançada no mundo, perdendo, por questão de poucos dias, para uma empresa inglesa. Cinco marcas no mundo oferecem energéticos orgânicos, e uma é brasileira”, comemora Sattamini, que está lançando novos produtos no mercado brasileiro, como os chás orgânicos de sabores, em garrafas pet de 330 ml.
“A certificação orgânica, o guaraná e o açaí é o que diferencia as latas da Organique dos outros energéticos das grandes multinacionais. Essa combinação é que permite a empresa ingressar em novos nichos do mercado dos alimentos funcionais”, complementa Sylvia Wachner.
Atualmente, a Organique é exportada para o Japão, Estados Unidos, Canadá, Chile e Inglaterra, onde é comercializada, de forma exclusiva, na grande rede varejista Tesco.
CHOCOLATE
Chocolate Pacari, Equador
Também presente à Biofach, Santiago Peralta recebe compradores e realiza degustações das diversas versões do chocolate orgânico da marca Pacari, produzido com o cacau Arriba do Equador, considerado um dos melhores premium do mundo. O chocolate é comercializado com sabores de frutas tropicais ou andina, entre elas, maracujá, mirtilo andino e capim limão.
A Pacari tem recebido diversos prêmios internacionais pela qualidade dos produtos. A empresa trabalha diretamente com agricultores familiares, produz e embala o chocolate no Equador para exportação, que também é certificado como orgânico. Neste caso (assim como o Organique), existe um controle de toda a cadeia de fornecimento.
PLANTAS
Enquanto isso, Hishtil, de Israel, exporta, por avião, mudas orgânicas de temperos, além de tomates e outros legumes. O produtor aproveita o sol e as temperaturas mais quentes do país para gerar as plantas e comercializá-las entre os agricultores orgânicos europeus, que recebem mudas certificadas, de boa qualidade, limpas e prontas para serem trabalhadas no solo.
Ao analisar mais um caso de destaque na Biofach alemã, Sylvia Wachsner faz referência ao modelo americano. “Esse exemplo me lembrou dos criadores de gado nos Estados Unidos. Eles simplesmente engordam os animais, que recebem de outros criadores. Neste caso, Hishtil utiliza sementes certificadas orgânicas para fazer as mudas. A finalização, e também a coleta e a venda de legumes e temperos são feitas na Europa. É uma inovação que utiliza o sol e o clima mais temperado de Israel. Peru e Chile, por exemplo, usam a mesma tática para exportar suas frutas e suprir o mercado dos Estados Unidos no inverno. Cerejas da Califórnia durante o verão e cerejas do Chile durante o inverno. O Brasil também poderia pensar nesse tipo de planejamento de suprir outros mercados”, sugere a coordenadora da SNA.
“Os produtores do cacau Arriba nacional, do Equador, conhecido por seu rico sabor, estão comercializando o fruto diferenciado, processado por agroindústria, nos Estados Unidos e na Europa. Lá deu certo. Aqui fica a pergunta: vamos conseguir exportar orgânicos com a marca made in Brazil?”
Fonte: ciorganicos.com.br - Equipe SNA/RJ,