O Agrolink conversou com exclusividade com Andréa Mesquita, idealizadora do Território da Carne. Ela fala sobre como surgiu essa iniciativa, quais são os objetivos, metas e conta como o ensino e consultoria à distância está revolucionando o mercado da carne no Brasil.
Agrolink – O que é o Território da Carne e como surgiu essa iniciativa?
Andréa Mesquita – O Território da Carne, eu costumo dizer, veio para democratizar o conhecimento para um consumo da carne mais inteligente e eficiente. Hoje é um portal que traz informações sobre a cadeia da carne, desde a pecuária até o consumidor final, com foco maior no varejo. Eu ajudo o empreendedor que quer ter um negócio mais eficiente com carne bovina a ter resultados, mediante uma organização da cadeia da carne: desde como receber a matéria prima, como fazer um congelamento adequado, qual o tipo de preparo para aquele tipo de corte que ele optou, até orientar para o consumidor.
Então hoje a gente está em várias etapas da cadeia, mas principalmente atuando com aquele empreendedor de uma casa de carne que nunca teve nenhuma orientação específica e que hoje se sentia despreparado. A gente faz isso via website, via redes sociais, mas principalmente através de cursos online que é o nosso grande foco, porque eu tive dificuldade de me capacitar quando eu saí da universidade, já que eu não estava nas mesmas cidades que tinham cursos muito bons, que até hoje existem. Então é uma alternativa a isso, que hoje é inevitável a gente falar, é o Ensino à Distância (EAD), que são cursos que você pode fazer sem descolar, sem gastar o tempo, com um investimento mais baixo. Então hoje é a nossa frente, nosso produto principal vem através dos cursos, mas a gente tem muita presença para passar a nossa mensagem para quem precisa desse tipo de conteúdo.
Agrolink – Para lançar essa startup você viajou o Brasil e o mundo, verdade?
Andréa Mesquita – Isso mesmo, a gente começou indo para o Norte, eu já tinha uma experiência em Centro-Oeste, Sul do País e moro no Sudeste atualmente, e quando eu fui pro Norte foi quando eu percebi que carne de “qualidade” é a carne que a pessoa enxerga como qualidade, e não o que eu enxergava. Nesse momento eu pensei: bom eu tenho que conhecer essa pessoa e o que é qualidade para ela.
Aí eu peguei meu carro, saí de Belém no dia 25 de janeiro e fui chegar em São Paulo no dia 29 de março. Foram 64 dias de viagem por mais de sete mil quilômetros e aí, quando eu cheguei aqui, eu vi que o Brasil era pouco. Eu precisei ir para o Uruguai, para a Rússia, para a Alemanha, para a França, para a Inglaterra, enfim, vários países. Foram oito ao todo, e aí que eu pude ver que, de fato, a gente tem uma informação globalizada sobre carne bovina, mas a regionalização é muito importante e a gente tem que respeitar quando fala disso.
Agrolink – E para o futuro, para onde vai o Território da Carne?
Andréa Mesquita – A nossa intenção é de que a pessoa que trabalha com carne bovina não consiga fazer nada sem saber o que é o Território da Carne, então a gente tem metas bastante agressivas, digamos assim, porque a gente quer estar em todo o lugar, a gente quer estar num podcast nos Estados Unidos, a gente quer estar num vídeo para a Austrália, a gente quer estar na Europa com um conteúdo digital, porque a gente quer, de fato, transmitir a nossa informação, a nossa mensagem. Nosso principal objetivo é, através dos cursos online, fazer a capacitação desse pessoal, mas a gente sabe que nem todo mundo está disposto a desembolsar, e isso para nós não é um impeditivo, a gente tem muito conteúdo gratuito, que a pessoa pode sim, com esse conteúdo gratuito, já ter transformação, não só para o seu negócio, mas dentro de casa como consumidor de carne.
Agrolink – Isso não deveria ser uma coisa a se ressaltar, mas dadas as condições atuais, chama a atenção o fato de ser um empreendimento comandado por uma mulher, num território bastante machista – que é a agropecuária – e, ainda por cima, de alguém trabalhando em um projeto de comunicação sendo uma zootecnista. Como você conseguiu ter sucesso, com tantos desafios?
Andréa Mesquita – Uma mistura, né? Eu acho que esse, se eu posso dizer “sucesso” ou o “caminho de”, eu acho que isso é o ingrediente principal. É não se apegar a pequenos desafios, o primeiro deles, ser mulher: eu nunca enxerguei como desafio e sempre entendi que, com cinco minutos de conversa e conhecimento você consegue transformar qualquer conversa, qualquer discussão, em qualquer ambiente, e isso foi uma realidade.
Eu comecei como trainee, num frigorífico, que a gente sabe que é essencialmente masculino, e ao longo de dois anos eu consegui estar com a diretoria em vários projetos, onde eles entenderam que eu estava entregando o que eles precisaram independente de sexo e o meu grande desafio foi quando me colocaram para gerenciar uma produção quando eu tinha só 26 anos enquanto todos os funcionários eram homens.
E nesse momento eu precisei me colocar de uma forma muito humilde de que eu não sei tudo o que eu preciso saber e vocês podem me ajudar, então eu acho que esse talvez seja um dos ingredientes que me ajudou: nunca ter preconceito com o meu próprio gênero. E em relação a não ser jornalista e comunicar, acho que é uma coisa nata. Tecnicamente eu não sou uma jornalista, mas eu tenho paixão por comunicar e uma comunicação séria, eu acho que todos os técnicos deveriam ter esse tipo de compromisso, a partir do momento que você é técnico em algo você precisa comunicar o que você aprendeu para que as pessoas consigam chegar ao próximo nível dentro da realidade delas, seja como pecuarista, frigorífico ou açougueiro.
Fonte: Agrolink.