O início da safra deve sofrer impactos em outubro, com chuvas irregulares. “Chove em setembro? Sim, mas pode não chover em outubro. Acontecerá algo parecido com o que ocorreu em 2014. O produtor não poderá trabalhar com a hipótese de linearidade”, explica.
Renata Tedeschi, climatologista do Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), diz que há 57% de chance da ocorrência do fenômeno a partir de agosto.
O CPTEC recebe os dados sobre a temperatura do Pacífico Equatorial dos Estados Unidos, por meio do International Research Institute for Climate and Society (IRI). Mas é necessário que o aquecimento anormal na superfície do mar seja mantido por mais seis meses, para que assim seja comprovada a ocorrência do El Niño. “Hoje é maior a probabilidade que o El Niño ocorra no próximo trimestre. Mas ainda é preciso esperar entre setembro e outubro, quando acontecem os maiores impactos”, explica Renata.
Graziella Gonçalves, meteorologista da Climatempo, avalia que o fenômeno possa se firmar entre dezembro e janeiro de 2018. “Ainda não se caracterizou o El Niño, mas já notamos aquecimento das águas da superfície do oceano em 0,2 grau Celsius”, explica Graziella. “Por enquanto, estamos em neutralidade climática.”
Efeitos de El Niño
Caso seja confirmado, o El Niño pode trazer prejuízo ao trigo no Rio Grande do Sul e às plantações no Nordeste. “O trigo precisa de umidade no solo mas também precisa de irradiação, além de gostar de frio. Com o El Niño, não há frio. E com muita chuva, há mais risco de doenças e fungos”, explica Celso Oliveira, da Somar Meteorologia. “Também falta a incidência de luz solar ideal para o crescimento da cultura. Ano de El Niño não costuma ser bom para o trigo.”
O fenômeno é provocado por uma série de fatores que envolvem a atmosfera. Um deles é a força dos chamados ventos alísios, que sopram da América para a Ásia. Com a redução de intensidade desses ventos, as águas se aquecem formando nuvens carregadas, alterando a pressão atmosférica. Graziella explica que a Zona de Convergência Intertropical, responsável pelo regime de chuvas no Nordeste, praticamente é impedida de avançar para a região, explicando em parte a seca na região em eventos como esse. Ao se configurar El Niño, a meteorologia espera um verão drástico para o Nordeste e riscos às lavouras de verão do oeste da Bahia.
Enquanto não se há certeza sobre o El Niño, a previsão é que as chuvas continuem irregulares no Sul do País e no Centro Oeste, diz Graziella. Segundo ela, no final de julho uma nova massa de ar frio deverá derrubar as temperaturas no Sul e Sudeste, embora não deva durar mais do que quatro dias. “A chuva voltará nas próximas semanas ao Rio Grande do Sul, mas não de uma boa qualidade, será mais esparsa. E a área central do País continuará seca”, explica. Até o fim do mês é esperado chuvas para o Paraná e Rio Grande do Sul, capazes de garantir a umidade do solo.