O objetivo é, por meio da liberação controlada, aumentar a eficácia de aplicação e reduzir a poluição ambiental, inerentes ao uso dos agroquímicos convencionais. O trabalho conta com recursos da Eletrobrás Companhia de Geração Térmica de Energia Elétrica (CGTEE).
O projeto propõe o desenvolvimento de formulações que reunirão no mesmo produto: nanocarbonatos, obtidos a partir do gás carbônico; lignina, oriunda do processamento da indústria de papel e celulose; e o agroquímico de interesse. O nanocarbonato tem a função de adsover (fixar) os agroquímicos, enquanto que a lignina, um polímero natural presente nas plantas, é empregada como aditivo para melhorar essa adsorção. No caso do fertilizante, o resultado é a liberação gradual do agroquímico aumentando sua eficiência e reduzindo perdas do produto para o meio ambiente. Parte dos fertilizantes convencionais se perde por carreamento, sublimação e outros processos, o que pode contaminar o meio ambiente.
As cápsulas nanométricas também servem para envolver o medicamento veterinário e o semioquímico. O nanoencapsulamento promove a liberação lenta ou controlada de ambos, o que permite maior eficácia, redução da quantidade dos princípios ativos utilizados e, consequentemente, dos impactos negativos ao meio ambiente.
Retirando CO2 de termelétricas e usinas canavieiras
Os cientistas procuram justamente alternativas aos agroquímicos convencionais e, ao mesmo tempo, dar uma finalidade nobre ao CO2 emitido por usinas termoelétricas, o que poderá ser estendido ao aproveitamento das emissões das usinas canavieiras.
Os agroquímicos utilizados pertencem a três grupos: semioquímico (cis-jasmone), antibiótico (oxitetraciclina) e fertilizante (o próprio nanocarbonato). A escolha dessas três moléculas tem como objetivo promover tecnologias para o desenvolvimento de uma agricultura mais sustentável. Um exemplo é o emprego do cis-jasmone no manejo integrado de pragas (MIP). De origem vegetal, esse semioquímico é inofensivo à natureza e seu emprego reduz a aplicação de inseticidas no controle do percevejo da soja (Euschistus heros).
Menor quantidade de antibiótico
O trabalho de pesquisa também considera o largo uso do antibiótico oxitetraciclina na pecuária e a necessária redução dos seus impactos. A oxitetraciclina é o antibiótico mais utilizado na agropecuária brasileira, tanto para o tratamento de doenças quanto para a promoção de ganho de peso. Porém, até 90% por cento da quantidade aplicada é excretada pelos animais e pode produzir efeitos ao meio ambiente, como a criação de resistência em certos microrganismos.
Vaz salienta também que as nanoformulações a serem desenvolvidas poderão ser aplicadas como agente para manejo integrado de pragas, medicamento veterinário e fertilizante seletivo. De acordo com o pesquisador, a Embrapa Agroenergia já vem executando pesquisas para a liberação controlada de agroquímicos utilizando lignina kraft como suporte. As ações serão executadas em três anos, em parceria com outras duas unidades da Embrapa, a Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia (DF) e a Embrapa Florestas (PR).
O pesquisador destaca, ainda, que a inovação proposta pelo Projeto AgriCarbono está na junção de método de captura de CO2 na forma de nanocarbonatos, com consequente redução de CO2 emitido, ao desenvolvimento de suportes, associados à lignina kraft. Tais nanoformulações de agroquímicos poderão ser mais sustentáveis do que os produtos convencionais atualmente comercializados.
Mercado bilionário dos agroquímicos
Os agroquímicos movimentam um mercado mundial de U$ 54,6 bilhões, com uma contribuição brasileira de U$ 9,6 bilhões. Entretanto, suas moléculas são enquadradas em uma das principais classes de poluentes químicos. Dessa forma, é necessário que sejam desenvolvidas alternativas aos agroquímicos convencionais com tecnologias agrícolas mais sustentáveis e que permitam a abertura de novos negócios.
Produtos com gás carbônico
O CO2 originário da queima de combustíveis fósseis para produção de energia e em processos industriais para produção de outros componentes da bioeconomia, apesar de poluente, pode ser utilizado de maneira benéfica como matéria-prima para obter resinas, polímeros, intermediários químicos, combustíveis sintéticos, eletrólitos e solventes.
O gás carbônico, produzido em processos industriais e no uso de combustíveis fósseis por automóveis, é um dos principais gases que contribuem para o efeito estufa e que levam ao aquecimento global com impacto sobre o meio ambiente.
Fonte: Embrapa.