Enquanto os preços pagos aos pecuaristas aumentaram quase 20% de janeiro a abril, para R$ 1,49 o litro, em média, os custos de produção subiram marginalmente (de 1% a 1,5% até março), segundo a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).
Na comparação com o primeiro quadrimestre do ano passado, os preços pagos registraram alta de 34%. "O ano começou atípico para o segmento. O aumento de preços, que costuma ocorrer entre fevereiro e maio, quando a captação é menor, começou em janeiro", afirmou Thiago Rodrigues o assessor técnico da CNA.
Essa antecipação é resultado da safra do Sul do país em 2018, menor que a esperada, e do veranico de janeiro deste ano, que afetou a produção no Sudeste e reduziu o volume de captação.
O índice de captação de leite do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) caiu 3,05% em janeiro e 4,73% em fevereiro. Em março, a queda foi de 1,6% ante fevereiro. Em 2018, a captação de leite com inspeção somou 24,5 bilhões de litros no Brasil, alta de 0,5% sobre 2017, conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Tudo indica que o movimento de recuperação dos preços pagos aos produtores perderá força até junho, com a entrada da nova safra da região Sul do país, mas mesmo assim os valores deverão continuar mais elevados que os praticados no ano passado.
Conforme estimativa da CNA, em abril o preço médio nacional do litro ficou de R$ 1,56, ante R$ 1,38 no mesmo mês do ano passado. Para maio, o valor projetado para o litro é R$ 1,59, ante R$ 1,45 em maio de 2018, e para junho a entidade espera que os R$ 1,59 se repitam - em junho do ano passado, a média foi R$ 1,47 por litro. Em um mercado em que cada centavo faz a diferença, já será uma boa notícia.
"Com isso, as margens dos produtores deverão ser maiores que as do ano passado", afirmou Valter Galan, analista do MilkPoint. "Mas isso vai depender de quanto será a queda depois de junho".
Como a economia não está crescendo como esperado, as indústrias deverão segurar os reajustes nas gôndolas para estimular o consumo. Ao mesmo tempo, tendem a diminuir os preços pagos aos pecuaristas para preservar suas próprias margens.
Essa dificuldade das empresas em elevar os preços dos lácteos sem prejudicar tanto as margens já limitou a valorização no campo em abril, segundo avaliação do Cepea. A "Média Brasil" líquida de abril, referente à captação de março, aumentou 0,92% (praticamente um centavo) em relação a março, para R$ 1,4920 por litro.
"Não há nenhum indicativo de que o consumo vai melhorar e, mais cedo ou mais tarde, a indústria vai pressionar o produtor", acrescentou Rodrigues, da CNA.
Assim, os custos de produção também farão muita diferença para a manutenção das contas dos pecuaristas no azul. "Os preços do milho estão favoráveis e a perspectiva é de uma safra farta. Mas, se houver algum problema climático, esse cenário pode mudar", afirmou Rodrigues.
Com a menor oferta no mercado interno no começo do ano, as importações ocuparam parte do mercado, que se abriu. No entanto, as produções de leite da Argentina e do Uruguai recuaram no primeiro trimestre do ano - 8,5% e 9%, respectivamente. E a alta do dólar reduziu a atratividade das importações. "Isso abriu espaço para essa maior de oferta do produtor de leite nacional", disse Galan, do MilkPoint.
As importações brasileiras recuaram 36,5% em março ante fevereiro, para 80,9 milhões de litros, de acordo com dados do Cepea. Ante ao mesmo período do ano passado, a retração é de 26%.
O Brasil tem histórico de importar leite em pó dos dois países vizinhos e um longo processo de negociações para reduzir os volumes adquiridos. E, nos últimos três anos, essa redução vem ocorrendo. No ano passado, o país importou 96,68 mil toneladas, ante 103,44 no ano anterior, segundo dados da Viva Lácteos.
De acordo com Marcelo Martins, diretor executivo da Viva Lácteos, entidade que representa os principais laticínios que atuam no mercado brasileiro, se a aprovação da reforma da Previdência se concretizar, o cenário para o segmento será "extremamente positivo" neste ano.
Para ele, a grande volatilidade dos preços do mercado interno, que oscilaram 52% em 2018 e 29,5% no ano anterior, também prejudica o produtor. E a saída é ampliar o consumo interno e as exportações. "A gente vem fazendo um trabalho para melhorar a commodity. O avanço tem acontecido na exportação de produtos de produtos de maior valor agregado, como queijos".
As informações são do jornal Valor Econômico.
Fonte: Milk Point.