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Empresários se movimentam para produzir cannabis com uso medicinal Divulgação.

Empresários se movimentam para produzir cannabis com uso medicinal Destaque

Escrito por  Jun 13, 2019

Com abertura de consulta pública da Anvisa, regulamentação pode entrar em vigor em 2020; pesquisadores afirmam que produção no Brasil geraria maior controle sobre as moléculas utilizadas

A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) encaminhou ontem (11/6) uma consulta pública sobre propostas para a regulamentação do cultivo de Cannabis sativa para uso medicinal e de pesquisa no Brasil. As medidas tratam de regras para o plantio por laboratórios farmacêuticos e o registro dos medicamentos produzidos a partir de componentes da planta. Empresas, pesquisadores e representantes da sociedade civil poderão participar da consulta pública, que deve ficar aberta por pelo menos dois meses.

A HempMed Brasil, subsidiária da americana Medical Marijuana, fabricante de remédios à base de Cannabis, é uma das empresas interessadas em participar das discussões. O laboratório abriu um escritório em São Paulo em 2018. Por enquanto, o espaço serve como um centro de apoio para palestras sobre o tema e para tirar dúvidas dos pacientes, já que a importação dos medicamentos é permitida apenas por pessoas físicas mediante a apresentação de receita médica e um ofício liberado pela Anvisa.

“Caso o cultivo da planta e a fabricação de remédios possa ser feita no Brasil, deverá haver uma redução de custos e expansão dos negócios, o que nos interessa muito”, diz Caroline Heinz, vice-presidente da HempMed Brasil. “Pretendemos participar ativamente das discussões”, afirma.

A HempMed Brasil comercializa óleos, capsulas e extratos da linha Real Scientific Hemp Oil, utilizados no tratamento de epilepsia, dores crônicas, autismo e outras doenças. “Os compostos ativos desse tipo de medicamento não contêm o TSH, substância responsável por provocar efeitos alucinógenos”, explica o pesquisador Francisco Silveira Guimarães, da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, da USP, que há 30 anos desenvolve estudos científicos com a planta. “De qualquer forma, se a produção dos remédios fosse feita no Brasil teríamos maior controle sobre as moléculas utilizadas”, diz.

Nos Estados Unidos, onde a produção de remédios e outros produtos à base de componentes da Cannabis é permitida em vários Estados, foram cultivados mais de 31 milhões de hectares de maconha para fins industriais no ano passado, movimentado um mercado de US$ 1 bilhão.

A Cannabis vem sendo utilizada para a fabricação de medicamentos para uma série de doenças, entre elas epilepsia, mal de Parkinson e esclerose múltipla. A fibra da planta, bastante resistente, é empregada na produção de tecidos, materiais para a construção civil e móveis.

Agora, um grupo de empresários brasileiros aguarda o parecer final da Anvisa para começar a investir no cultivo e na produção de medicamentos no Brasil. Eles são proprietários do grupo Piahuy, que fabrica, no Uruguai e em Portugal, remédios feitos com princípios ativos do cânhamo, com menos de 0,2% de THC. O uso medicial da maconha é legalizado nesses dois países. “O processo começou a caminhar mais rapidamente no Brasil”, diz Eduardo Sampaio, um dos proprietários da empresa, que planeja investir cerca de US$ 5 milhões em unidades fabris no país.

Áreas propícias

Se o cultivo for legalizado, o empresário pretende comprar a planta de agricultores com autorização para o cultivo. Segundo Sampaio, o Cerrado e a região oeste da Bahia, com tempo ensolarado e a quantidade ideal de chuvas para a Cannabis, seriam áreas propícias para o plantio. No hemisfério sul, a semeadura acontece em setembro e outubro. A colheita em geral acontece ao redor de um ano.

A regulamentação poderia contribuir também com os trabalhos de pesquisa sobre as aplicações medicinais da planta. Hoje, as universidades precisam importar a matéria-prima. “Para os pacientes, que precisam do remédio, é ainda pior, porque os custos finais, com os impostos, são muito altos”, diz Guimarães.

Hoje, quase 7 mil pacientes estão registados na Anvisa para importar medicamentos à base de componentes da maconha. Em média, o processo de liberação da Anvisa, que precisa autorizar os pedidos, leva de 40 a 50 dias. Apenas no ano passado, 2.371 novos pacientes se cadastraram.

“A pressão das famílias dos doentes têm levado o governo brasileiro a agir, como já aconteceu em países como os Estados Unidos, Canadá, Uruguai, Portugal e vários outros”, afirma Sampaio. A expectativa é que a legislação esteja em vigor no ano que vem. “A regulamentação vai ajudar a criar um novo mercado, o que é importante para a economia, e colaborar para minimizar os problemas de saúde de muita gente”, diz.

 

 

Fonte: Revista Globo Rural.

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