"As questões comerciais [do agronegócio] são mais ligadas à segurança alimentar do que ao viés ideológico. Cabe a nós continuarmos produzindo com transparência e diversificação", avaliou o presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária, deputado Alceu Moreira (MDB-RS).
"Ele [Bolsonaro] quis botar um ponto final em relação à soberania da Amazônia. Ele manteve seu patamar ideológico e quis falar [também] sobre a questão da liberdade econômica", completou Moreira, que lidera um dos principais blocos de apoio de Bolsonaro no Congresso Nacional, com 235 deputados e 38 senadores.
Em nota, a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) disse que "Bolsonaro esclareceu equívocos sobre a Amazônia e ressaltou o importante papel do Brasil na produção mundial de alimentos".
"Também afastou a tese de que o governo está colocando o mundo contra o agro brasileiro, defendendo não apenas o setor, mas toda a nação", acrescentou a CNA.
Já a Confederação dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), que representa os agricultores familiares, "lamentou" o discurso do presidente brasileiro.
Para a associação, Bolsonaro erra ao "rejeitar a tese de que a Amazônia é um patrimônio da humanidade e ao negar o aumento de incêndios e desmatamento nos últimos dois meses no Brasil, mesmo com fotos de satélite, inclusive da Nasa, que comprovam".
"Apesar de afirmar que o seu 'governo tem compromisso solene com o meio ambiente', em nenhum momento falou da responsabilidade de pecuaristas, madeireiros, grileiros e garimpeiros nas queimadas", disse em nota a Contag.
O G1 pediu posicionamento para outras entidades do setor, como a Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), para a Sociedade Rural Brasileira (SRB) e para a associação que representa as empresas exportadoras de soja (Abiove), que não responderam.
Soja
Para a associação que representa os produtores de soja (Aprosoja), o discurso do presidente da República atendeu aos desejos dos agricultores do produto mais exportado pelo Brasil.
Questionado se as reações internacionais ao discurso de Bolsonaro pudessem prejudicar as exportações do Brasil, o presidente da Aprosoja, Bartolomeu Braz, disse não acreditar nesta possibilidade.
"Não vejo dessa forma [risco de retaliação]. Nossos mercados são firmes, somos os mais sustentáveis do mundo e contra fatos não há argumentos", acrescentou o presidente da Aprosoja.
Braz disse ainda que o discurso de Bolsonaro "desmentiu informações erradas sobre o país" e que o presidente defendeu o setor.
"Todos são contra o desmatamento ilegal, é mentira que estão acabando com Amazônia, não dá para acreditar nas informações internacionais", disse Braz.
Embargos após incêndios na Amazônia
No fim de agosto, no auge da crise provocada pelas queimadas na Amazônia, a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, disse que o Brasil não havia sido ameaçado com o fechamento de mercado a produtos do agronegócio por conta dos incêndios, já que a produção pecuária é significativa na região.
"Para mim [reclamações sobre riscos de embargos] só pela imprensa e em conversas pessoais. Apenas uma preocupação, mas de efetivo e concreto, nós não tivemos", disse a ministra.
"Você nunca está livre de um embargo. Cada país é soberano e sabe como reagir, mas eu acho que seria um casuísmo, mas a gente não está livre. Eu espero que não", completou Tereza.
Dias depois, porém, a VF Corporation, dona das marcas Timberland e Vans suspendeu as compras do couro brasileiro. A empresa não afirmou se a paralisação tinha relação com os incêndios na Amazônia.
À época, segundo a companhia, a medida valerá "até que haja a segurança" de que os materiais usados em seus produtos "não contribuam para o dano ambiental no país".
Já no início de setembro, o grupo sueco H&M, segundo maior varejista de moda do mundo, disse que deixará de comprar couro brasileiro temporariamente, como respostas às queimadas na Amazônia
"A proibição permanecerá ativa até que existam sistemas de garantia críveis para verificar se o couro não contribui para danos ambientais na Amazônia", afirmou a H&M.
G1