Por melhor preço, produtores de café atacam NY e Londres Divulgação.

Por melhor preço, produtores de café atacam NY e Londres Destaque

Escrito por  Mai 13, 2019

Em busca de melhorias na cotações internacionais do café, em níveis baixos há cerca de uma década, produtores do Brasil sugerem que os cafeicultores mundiais deixem de ter o princípio de formação de preços do grão pelas “cotações ‘artificiais’ da Bolsa de Nova York e de Londres, lugares dominados por grandes especuladores”.

Ao mesmo tempo, eles dizem, os países produtores e exportadores de café, liderados pelo Brasil, que detém um terço da produção mundial de café, devem criar uma entidade internacional chamada Organização dos Países Produtores de Café (OCAFÉ).

A OCAFÉ será uma organização governamental das nações produtoras e exportadoras de café, fórum permanente dos países produtores de café com a missão de quatro objetivos:

Criar regras de exportação de café com preços acima dos custos de produção, garantindo a Sustentabilidade Econômica dos produtores;
Fomentar o aumento do consumo de café em todo o mundo, consumir café é gerar riquezas;
Em havendo excedentes de café, criar estoques estratégicos e de segurança nos países produtores;
Agir com inteligência e planejamento na produção mundial de café.
Divulgado dia 5 deste mês, o documento com as sugestões é assinado por Armando Mattielo e Marco Antonio Jacob, respectivamente presidente e diretor da Associação dos Cafeicultores do Brasil (Sincal), sediada em Guapé, sul de Minas Gerais, maior produtor de café arábica do país, com 70,1% do total – deve colher 27,3 milhões de sacas em 2019.

Com o título “Sugestão de uma política cafeeira mundial”, o documento afirma que “o mercado mundial de café é imperfeito, pois do lado da oferta se encontram produtores em concorrência perfeita de países pobres e do lado da demanda oligopólios de importadores e industrias de países ricos”.

“Os preços pagos aos cafeicultores continuam caindo e estão atualmente abaixo do custo de produção”, diz o documento. “No entanto, os preços ao consumidor no varejo continuam a subir. Esses aumentos no preço de varejo não estão sendo repassados aos produtores na forma de preços justos”.

Numa analise comparativa, a Sincal diz que atualmente as cotações de café arábica na Bolsa de Nova York, contrato “C” na Intercontinental Exchange-ICE (empresa norte-americana que comercializa via internet futuros e derivativos no mercado de balcão), giram próximo de US$ 0,9000 por libra peso (453,59 gramas).

Na negociação, os produtores de café recebem em valor real próximo a 25% do que recebiam em 1982/1983, quando iniciou o Acordo Internacional de Café, as cotações flutuavam próximo de US$ 1,3600 por libra peso naquela época.

Esta cotação de US$ 1,3600, corrigido o valor da inflação americana (após 36 anos), é equivalente a US$ 3,5800 por libra peso. Em comparação, a cotação em 3 de maio de 2019 da Bolsa de Café, Intercontinental Exchange, Inc. – ICE, é de US$ 0,9060 por libra, inferior a US$ 1,3600 praticado no início da década de 80.

O Brasil, a saca de café (60 kg) cotada a R$ 650 há seis anos estava sendo cotada nesta sexta-feira por até R$ 360 (em Vitória da Conquista, na Bahia), conforme cotação registrada pela consultoria Safras e Mercado.

E isso mesmo com o Ministério da Agricultura tendo publicado uma portaria com preços mínimos para a saca do café arábica e do conillon, após aprovação do Conselho Monetário Nacional (CMN). O valor do café arábica passou de R$ 341,21 por saca para R$ 362,53, alta de 6,25%, e o conillon saiu de R$ 202,19 para R$ 210,13, alta de 3,93%.

Na análise da Sincal, os “experts” em mercados futuros de café sabem que manter posições vendidas “short” em bolsas é muito mais vantajoso do que manter posições compradas “longs”, pois a própria estrutura da composição de preços futuros “contango” ajuda esta prática de permanecer vendido.

Assim, os mercados cotados em bolsa sempre estarão com excesso de posição vendidas, deprimindo os preços. Somente quando há problemas climáticos graves que impactam na produção é que as cotações sobem.

“Então os fundos de investimento (managed money) que participam do mercado de café, percebendo que os países produtores não praticam políticas para proteger a renda de seus cafeicultores, passaram a ser muito mais agressivos em suas vendas a descoberto, exercendo pressão de venda tão grande que deslocam os preços para baixo”, diz o documento da Sincal.

Tradicionalmente, segundo a entidade, estes fundos de investimentos ficavam no máximo vendidos líquidos (net short) em aproximadamente 40 mil contratos, porém há alguns meses estes fundos se tornaram bastante agressivos, culminando com uma posição vendida líquida em 21 de agosto de 2018 de 106.105 contratos, que equivalem a mais de 30 milhões de sacas de café. Em 23 de abril de 2019, estavam vendidos em 75.846 contratos, equivalentes 21,50 milhões de sacas.

“Os preços de café são aviltados em função das práticas dos oligopólios que comercializam o café mundialmente, pois quando exigem que as negociações sejam paritárias a bolsas de café, indexam as cotações ao bel-prazer de grandes fundos financeiros especuladores”, observa a Sincal.

Então, conclui a entidade, “apoiar que a formação dos preços mundiais que recebem os cafeicultores flutue ao sabor da vontade de fundos especulativos capitalizados em bilhões de dólares é insano, predatório e perverso”.

“É inocência pensar que estes fundos de investimentos terão compaixão das 25 milhões de famílias no mundo que vivem do café. Para estes especuladores, o que interessa é a rentabilidade que seus operadores, com ajuda de sofisticados algoritmos, poderão obter nestes mercados”, afirma.

Esta estratégia – diz a Sincal – consiste em o Brasil como maior produtor e exportador de café do mundo liderar uma política cafeeira mundial sensata e inteligente, impedindo o “rabo de balançar o cachorro“ e buscar o caminho natural do “cachorro balançar o rabo”.

Apoiadores

Estimativas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgadas em abril, apontam que a produção brasileira de café encontra-se em 3,2 milhões de toneladas, ou 53,9 milhões de sacas de 60 kg, redução de 10,0% em relação a 2018.

São Paulo, segundo maior produtor, deve alcançar 297,2 mil toneladas, ou 5,0 milhões de sacas de 60 kg. Rondônia e Bahia devem colher este ano 143,7 e 129,6 mil toneladas, ou 2,4 e 2,2 milhões de sacas de 60 kg, respectivamente. Juntos, Bahia, Minas e Rondônia devem responder por 96,3% da produção de café conillon em 2019.

Na avaliação do IBGE, “os produtores estão apreensivos com os preços do produto que, em função da grande oferta no mercado, têm registrado valores abaixo do necessário para cumprir com os compromissos assumidos com as lavouras”.

Por essa razão, o discurso da Sincal de que os produtores mundiais devem desvincular os preços do grão nas bolsas de Nova York e Londres tem cada vez mais encontrado eco em outros estados do Brasil.

Dentre as entidades que apoiam a ideia da Sincal, estão a Associação dos Produtores de Café da Bahia (Assocafé), estado que possui mais de 15 mil produtores. Para João Lopes Araújo, presidente da entidade, “o preço só tem caído porque a base das cotações de preços no mundo é a Bolsa de Nova York”.

“É uma jogatina”, afirmou. “Vinte jovens executivos recém-formados têm 1 US$ trilhão para aplicar e dar lucro aos fundos, então o que eles fazem: aplicam hoje em café, amanhã em ferro, depois outra commodity qualquer que tem perspectiva melhor, e aí ele derruba o preço de café”.

“Então, com isso a gente não tem tido condição de melhorar o preço no mundo. Isso é uma coisa que a gente não encontrou saída ainda, a Colômbia está querendo sair da Bolsa de Nova York para não ter a referência do café dela cotado lá, o Brasil está resistindo para isso. É uma coisa que tem de ser discutida”, declarou.

Para Araújo, medidas de curto e médio prazo precisam ser tomadas pelo governo federal, até mesmo o que ele chamou de “medidas psicológicas”. “Se o governo disser: vamos tirar do mercado dez milhões de sacas agora no começo da safra para vender mais para frente na hora que o mercado se normalizar, isso tem um impacto no mercado, é uma medida psicológica”.

Outra ação governamental que beneficiaria o produtor, na opinião de Araújo, seria a melhor distribuição dos recursos do Fundo de Defesa da Economia Cafeeira (Funcafé), que em 2019 será de R$ 5,07 bilhões.

A verba é destinada para linhas de financiamentos de custeio, estocagem, aquisição e capital de giro para cooperativas de produção e para indústria de café solúvel e de torrefação de café, além de crédito para recuperação de cafezais danificados para safra 2019/2020. Na safra anterior, o valor foi de R$ 4,9 bilhões.

“Esse dinheiro está muito mal gerido, os bancos não emprestam o dinheiro para o produtor. Tem de ser de banco que tenha rede de agência na região produtora, e tenha condição de comprovar que está emprestando”, afirmou Araújo.

Esta semana, o Ministério da Agricultura divulgo que as instituições financeiras interessadas em operar com os recursos do Funcafé têm até o dia 21 deste mês para encaminhar proposta de contratação para o endereço eletrônico Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo..

As instituições que serão habilitadas pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento deverão ser integrantes do Sistema Nacional de Crédito Rural (SNCR). Os documentos exigidos para habilitação constam no Aviso publicado no Diário Oficial da União de terça-feira (7).

Melhoria no consumo

O cafeicultor Jaymilton Gusmão, presidente da Cooperativa Mista Agropecuária de Vitória da Conquista (Coopmac), com 254 cooperados que plantam café numa região conhecida como Planalto da Conquista, no sudoeste da Bahia, apesar de crítico das bolsas de valores, aposta na melhoria dos preços baseada na qualidade do consumo.

“A gente acredita que tem que estimular o consumo consciente do café, há muita gente que torra um café de má qualidade. A fiscalização e o controle da clandestinidade não ocorrem de forma mais firme”, ele disse.

Gusmão diz ser a favor de “lutar por políticas públicas de proteção, o que é contrassenso, mas que o governo deixe de financiar novos plantios, novas áreas, temos de estimular o consumo e qualidade, para nós determinarmos o preço do nosso produto”.

“As cooperativas têm buscado combater os cafés de má qualidade e baixar custo da porteira para dentro, mas não conseguem também. Esperamos resolver nos próximos três anos esses problemas: tentar reverter, estimular o consumo, melhorar a qualidade, baixar o custo e tentar novas formas de comercializar o café. Primar pela qualidade sempre, com novos compradores”, acrescentou.

Em Brasília, a parlamentares ligados à Frente Parlamentar do Café estão pressionando o governo federal a realizar medidas de apoio ao setor. O Ministério da Agricultura diz que vai adotar medidas para garantir preços remuneradores para o café ainda na atual safra. Para isso, está sendo desenvolvido um novo instrumento de prêmio ao produtor.

Além disso, o Ministério da Agricultura se comprometeu a trabalhar junto ao governo para ampliar, no Orçamento de 2020, as verbas destinadas ao apoio à comercialização, para o caso de também ser necessária uma ajuda mais efetiva aos produtores de café na próxima safra.

A Lei Orçamentária Anual de 2020 deverá ser encaminhada ao Congresso no início do segundo semestre, para votação até o fim do ano. Os valores que podem ser destinados para esta rubrica ainda estão sendo discutidos.

Outra reivindicação é a repactuação de dívidas dos cafeicultores. O governo diz que está se preparando para anunciar, em breve, medidas para facilitar a renegociação de dívidas de todos produtores com contrato na área do café.

 

 

 

 

Fonte: Blogs Canal Rural.

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